Manifesto, São Paulo, 07/10/12
(Por João Ricardo Lima)
http://colunademusica.wordpress.com/2012/10/11/metalmorphose-maquina-dos-sentidos/
Noite de domingo, num fim de semana de eleições,
Choque-Rei e
Clássico Vovô aqui, “
El Clásico” no futebol espanhol e
Derby della Madonnina em
Milão. A galera do heavy metal faz fila na porta do Manifesto Bar,
reduto metálico escondido no Itaim Bibi, bairro que tem um dos metros
quadrados mais caros de São Paulo. Dá-lhe camiseta preta de banda,
algumas cabeleiras que fariam Puyol (capitão do Barcelona) se sentir
careca, jaquetas jeans cheias de patches, bottons e até lenços no
pescoço, num visual que parece saído dos divertidos video-clips de metal
e hard rock dos anos 80… Tudo bem. E que tribo não se produz para ir
pra balada? Aliás, um amigo meu de faculdade dizia que Sampa leva super a
sério esse lance de tribo.
Os fãs das três atrações da noite – a banda paulista
Centúrias, o quinteto carioca
Metalmorphose e o grupo paraense
Stress
– fazem questão de nadar contra a corrente. O pessoal do Centúrias,
banda que estreou em meados dos anos 80 na coletânea “SP Metal” (Baratos
Afins), fez uma camiseta com sinais de proibido emo, e proibido “tchus”
e “tchas”. As bandas são solidárias, na linha da “união faz a força”.
Na véspera, Centúrias, Metalmorphose e Stress (mais o grupo Salário
Mínimo) tocaram no Rio de Janeiro… em Realengo! Maratona heavy! O
baixista do Metalmorphose,
André Bighinzoli,
tocou em São Paulo com uma camiseta do Stress – banda pioneira das
pioneiras, a primeira a gravar um disco de heavy metal – heavy metal,
mesmo – no Brasil. De maneira independente. No Pará. O clássico e
raríssimo vinil “Stress”, de 1982.
Vou me deter aqui sobre o
Metalmorphose, que está lançando um CD novo,
“Máquina dos Sentidos”.
O agora quinteto carioca também está perto dos trinta anos. Os caras
começaram praticamente na adolescência. Mais ou menos na época do
primeiro Rock in Rio, dividiram um LP com o trio carioca Dorsal
Atlântica, o clássico
“Ultimatum”,
relançado em CD e vinil há poucos anos (ainda disponível). No
finalzinho dos anos 2000, o Metalmorphose se reuniu, para gravações e
shows comemorativos, lançou disco ao vivo no Teatro Odisseia, reuniu
gravações dos anos 80 no CD “Maldição” e… voltou com tudo, de vez.
O disco novo,
“Máquina dos Sentidos”,
está muito bom! Bem produzido, é o melhor registro em disco do grupo
carioca. Heavy metal pesado, rápido, longe de ser death metal, mas com
pitadas de speed, thrash e power metal. Metal pesado brasileiro (bem)
cantado em português, com um vocalista acima da média do metal
independente nacional (
Tavinho Godoy, um fã de Ian Gillan). Letras sob problemas do cotidiano. O baixista
André Bighinzoli (com um bigode em homenagem a Geezer Butler?) e o seu xará da bateria,
André Delacroix,
fazem mais do que segurar o ritmo, são protagonistas também. A atual
formação da banda tem duas boas guitarras gêmeas, cortesia de
PP Cavalcante e
Leon Manssur, que solam bastante sem encher o saco.
Quase todo o disco novo foi mostrado no Manifesto Bar neste domingo
de outubro. “Jamais Desista” (dedicada ao cantor do Stress, Roosevelt
Bala), “Máquina dos Sentidos”, “Metrópole”,
“Máscara” …
tem até uma “power ballad”, “Passados Incompletos”, que o vocalista
Tavinho definiu como uma “heavy música de amor”. Entre várias faixas
REC – essas são para ouvir, gravar, baixar, compartilhar – destaco
“No Topo do Mundo“. Espetacular.
Taí
“Máquina dos Sentidos”,
do Metalmorphose. Ótimo heavy metal brasileiro. Indicado para quem
gosta de Maiden, Metallica, Sabbath, Purple, Priest, Lizzy, Viper etc.
Ainda sobre o show de domingo, a galera do Manifesto vibrou muuuito
com duas antigas da banda carioca: “A Minha Droga é o Metal” (lançada no
CD “Maldição”) e “Cavaleiro Negro”, da era “Ultimatum”. Legal.